Eu ainda lembro com detalhes daquele nosso encontro. Era tão
“Manuel Carlos” o momento, e as insistentes trocas de olhares daquelas cenas piegas e apaixonantes mereciam até uma bossa de
trilha sonora. Na
verdade, não lembro com tantos detalhes assim, não me atrevo a descrever sua
roupa ou que amigos te acompanhavam, mas saberia ainda descrever todas as particularidades
daqueles olhos que sorriam.
Parecia mesmo uma novela das nove, mas a vida nos transformou
em um grande dramalhão mexicano, daqueles de nomes duplos e triângulos
amorosos, pecando apenas na falta da tequila, para ajudar a descer tanta coisa
goela abaixo.
Eu, às vezes, me pergunto se eu faria tudo de novo. E estou
certa que sim, só que dessa vez acertando em todos os pontos que errei. Não
enviaria aquele sms, deixaria o seu telefone na blacklist por mais uns 3 dias
naquela outra briga e teria muito mais atitudes maduras, tão difíceis de
alcançar no calor dos 20 anos - por mais que já exijam muita seriedade de nós
nessa idade. Esconderia meus vícios em vez de tentar camuflar minha
insegurança através deles e ocultaria mais ainda minhas fragilidades.
Com uma chance de voltar atrás eu seria mais dura, em uma vã
tentativa de que você se derretesse. Eu seria bem menos patética (e olha,
patética foi uma coisa eu nunca me cansei de ser, enquanto pautava minha vida na sua). Talvez mantivesse a postura de tentar aprender sobre o que te interessava,
para nunca perdermos o assunto, mas eu tomaria mais cuidado em ir sem medo querendo me
jogar de cabeça naquela cachoeira, querendo te levar comigo. Perceberia que você
estava escaldado da água fria.
Ainda assim, se pudesse voltar atrás, eu continuaria
ignorando seus avisos de “não se aproxime”. Também saberia desse seu
insuportável jeito de não falar “não” mas inventar tantas desculpas quanto eu
arrumasse solução. Pararia na primeira, e entenderia que você não tava nem um
pouco afim, por mais que preferisse dizer que “queria muito ir, mas tinha que
almoçar com a mãe hoje”.
Voltando atrás eu saberia exatamente como lidar, o que falar
e como te fazer sorrir, te conheceria como se eu convivesse contigo por alguns
anos. Hoje eu tenho aqui um dossiê, um manual de instruções, e quase um artigo
da Wikipédia. Sei de tanta coisa e ainda assim continuo errando em tanta lição
primária, com você e com outros. Não sei se é por falta de sorte, ansiedade ou
qualquer coisa que valha, mas sei que mesmo que tempo voltasse, eu ainda não
teria você.
Nota da autora (ou do melhor amigo da autora):
- Só acho que tem uma frase que tá errada.
- Qual?
- Acho que deveria ser:
Não sei se é por MUITA sorte, ansiedade ou qualquer coisa que valha,
mas sei que mesmo que tempo voltasse, eu ainda não teria você.
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