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terça-feira, abril 23, 2013

Não há tempo que volte, amor




Eu ainda lembro com detalhes daquele nosso encontro. Era tão “Manuel Carlos” o momento, e as insistentes trocas de olhares daquelas cenas piegas e apaixonantes mereciam até uma bossa de trilha sonora. Na verdade, não lembro com tantos detalhes assim, não me atrevo a descrever sua roupa ou que amigos te acompanhavam, mas saberia ainda descrever todas as particularidades daqueles olhos que sorriam.

Parecia mesmo uma novela das nove, mas a vida nos transformou em um grande dramalhão mexicano, daqueles de nomes duplos e triângulos amorosos, pecando apenas na falta da tequila, para ajudar a descer tanta coisa goela abaixo.

Eu, às vezes, me pergunto se eu faria tudo de novo. E estou certa que sim, só que dessa vez acertando em todos os pontos que errei. Não enviaria aquele sms, deixaria o seu telefone na blacklist por mais uns 3 dias naquela outra briga e teria muito mais atitudes maduras, tão difíceis de alcançar no calor dos 20 anos - por mais que já exijam muita seriedade de nós nessa idade. Esconderia meus vícios em vez de tentar camuflar minha insegurança através deles e ocultaria mais ainda minhas fragilidades.

Com uma chance de voltar atrás eu seria mais dura, em uma vã tentativa de que você se derretesse. Eu seria bem menos patética (e olha, patética foi uma coisa eu nunca me cansei de ser, enquanto pautava minha vida na sua). Talvez mantivesse a postura de tentar aprender sobre o que te interessava, para nunca perdermos o assunto, mas eu tomaria mais cuidado em ir sem medo querendo me jogar de cabeça naquela cachoeira, querendo te levar comigo. Perceberia que você estava escaldado da água fria.

Ainda assim, se pudesse voltar atrás, eu continuaria ignorando seus avisos de “não se aproxime”. Também saberia desse seu insuportável jeito de não falar “não” mas inventar tantas desculpas quanto eu arrumasse solução. Pararia na primeira, e entenderia que você não tava nem um pouco afim, por mais que preferisse dizer que “queria muito ir, mas tinha que almoçar com a mãe hoje”.

Voltando atrás eu saberia exatamente como lidar, o que falar e como te fazer sorrir, te conheceria como se eu convivesse contigo por alguns anos. Hoje eu tenho aqui um dossiê, um manual de instruções, e quase um artigo da Wikipédia. Sei de tanta coisa e ainda assim continuo errando em tanta lição primária, com você e com outros. Não sei se é por falta de sorte, ansiedade ou qualquer coisa que valha, mas sei que mesmo que tempo voltasse, eu ainda não teria você.

Nota da autora (ou do melhor amigo da autora):
- Só acho que tem uma frase que tá errada.

- Qual?
- Acho que deveria ser:
Não sei se é por MUITA sorte, ansiedade ou qualquer coisa que valha, mas sei que mesmo que tempo voltasse, eu ainda não teria você.

quinta-feira, abril 04, 2013

Muito Pouco

Que Cazuza me perdoe por nunca ter vivido esse amor exagerado, eu não sei deixar de viver porque você não me ama. Sofro uma vez por mês, choro quando excedo no álcool, mas chega. Não sei se é por falta de tempo, amor próprio ou preguiça mesmo, mas não rola. Tenho dificuldade de aceitar esse amor que usa o pulmão do outro pra respirar, eu tenho os meus aqui, embora possivelmente já um pouco debilitados pelo tabaco. Minha vida não acaba se você não me amar, ou nesse caso, já teria morrido pelo menos umas cinco vezes, e também não acho que a vida não presta só porque você não gosta de mim. Não que seja fácil, só não é impossível. Aqui em volta tem amigos, família, risadas e um cachorro fiel. Falta o amor? Claro que falta, mas tem todo o resto. E dou valor ao resto, já que é recíproco. Mas liga não, é que eu sou assim mesmo, eu choro pouco, esperneio pouco, tenho pouco ciúmes, e te amo muito, nesse meu jeito pouco.