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terça-feira, dezembro 13, 2016

Café pra um


Já era quase verão, mas a noite ainda estava fazendo frio. Não sei exatamente quanto o termômetro marcava, mas sabia que meu frio não era compatível com a temperatura do lado fora. Era um frio meu, vinha de dentro.

Meu pé estava gelado e eu passei a noite inteira procurando seu para aninhar o meu, mas só achava o meu travesseiro extra na beirada da cama, quase caindo. Eu sei que foi muito pouco tempo que esteve aqui, mas eu me acostumei rápido.

Há dias levanto querendo café quente, pão fresco e risadas sobre a noite anterior, mas eu não tenho assunto e eu não tenho ninguém. Conformo-me em tomar café com o atendente da padaria. Sei que parece impessoal e solitário, mas ele é meu garçom preferido versão matinal: mais fiel que você.

O cheiro que você deixou por aqui já estava no final. Precisava me concentrar para inspirar um pouco da lembrança dos dias que você permeou pelo meu leito.

Ontem tudo acabou.

Foi dia de faxina.

Agora seu cheiro é só amaciante, em fronhas e lençóis que nunca lhe couberam.