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segunda-feira, janeiro 23, 2012

Todo dia

Eu acordo, respiro fundo, digo que não dá mais. Mas, levanto e suporto, mesmo quando a única promessa pro dia era de não suportar. Eu almoço sozinha, daquele jeito que não gosto. Ao lado, a cadeira vazia é a companhia e a porta para que a imaginação lhe pinte ali. A comida esfria, espalha pelo prato e você não veio. Você nunca veio. E eu lembro que não dá mais. Termino a comida e me ponho a escolher entre a sobremesa, o cigarro ou você. Mas você não veio, a sobremesa engorda e o cigarro... "Bem, amanhã eu juro que paro". Eu sigo a tarde e vejo o por-do-sol quase não sentindo sua falta, a noite chega e o meu sorriso de independência se alarga. A noite é minha, de noite sou minha. Me visto bem, gargalho, tomo coragem, um conhaque e afins, levanto a cabeça e sigo um caminho sem fim. Mas, a menos de um passo do novo, eu tropeço, de novo. Eu volto, eu choro, eu durmo.
No outro dia, eu acordo, respiro fundo, digo que não dá mais...

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Trocando em miúdos

É lugar comum sim, mas se tem uma verdade na vida é que sempre chega a hora de seguir sem a presença de alguém especial. E lamento (ou não), mas essa é a nossa. Tem hora que não dá. A gente já não rir das palhaçadas, não vê mais graça das piadas repetidas e começa e se incomodar com as diferenças.

É melhor ir embora guardar as boas lembranças e ignorar as desavenças. Ignorar, não esquecê-las. A gente sempre deve saber qual é o motivo que nos fez se afastar, para justificar a não reaproximação em futuras recaídas.

É chegada a hora, não resista e não insista. Cada um por si, pra si e por aí.

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Tudo de nós

Na sinuosa curva da paisagem que encanta, a gente se ampara, se abraça e não se ama. Na leitura que seus dedos fazem do rosto meu, e no meu desenho contornando os lábios seus, a gente não se entrega, não se nega e treme. Na linha tênue da realidade, com olhos pousados nos olhos, a gente se distrai, se contrai, contradiz. No silêncio da noite, no calor do verão, no fogo da pele, a gente se repele, peleja e deseja. A gente se aprecia, aprazia, se cala, acha graça e vai. Vai atrás, em paz, até mais.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

40 semanas


Nove meses é o tempo necessário para que uma criança se forme e esteja preparada para encarar a vida, nunca deixando de evoluir. Esse foi o mesmo tempo que eu precisei para completar um novo ciclo de desenvolvimento. Nessa temporada, o útero protetor e caloroso esteve longe, e diferente da primeira gestação, a distância foi o fundamental para me fazer crescer. O cordão umbilical era ligado no coração e suportou toda a saudade.
E agora, na hora do nascimento, surge uma nova pessoa. Que passou de menina mimada a uma quase mulher. Que descobriu da melhor maneira possível que o mundo é grande, é difícil, mas é seu e o sucesso só depende dos sonhos e do atrevimento. Foram 9 meses para concluir que berinjela e chuchu não são as piores coisas do mundo, e até podem ser deliciosos, que comida indiana é boa e que a japonesa continua não descendo goela abaixo.
Nove meses e um retorno, para um lugar que eu devia sim, ter saído, mas que nunca vai deixar de ser o endereço do regresso.