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sábado, março 09, 2013

50 tons de liberdade (feminina)




Há meses entro em conversas polêmicas sobre algemas, sexo e Christian Grey com homens e mulheres que leram ou não a trilogia mais famosa de 2012. Confesso que esperei passar o boom do 50 Tons de Cinza para escrever sobre, e aproveito o gancho da semana do Dia Internacional da Mulher para falar fazê-lo.
Li apenas o primeiro livro, muito mais pelo sucesso que ele fazia que pela vontade de lê-lo, furei a extensa fila de livros para entender do que tanto se comentavam. Deparei-me com uma leitura simples e cheia de clichê, com personagens que na vida real seriam bem difíceis de encontrar. Não devorei as páginas do voraz romance entre a jovem virgem e o rico e belo Grey. Li, na velocidade com que leio qualquer livro, e ainda achei que o final “do nada” do primeiro livro uma grande sacada de vendas para o segundo, como uma novela de sábado que termina com um suspense para que você não deixe de assisti-la na segunda feira.
Independente do grau de experiência sexual da leitora, é sim uma estória que te deixa encabulada, em muitos momentos. Todos os detalhes nos fazem viajar pelo corpo do empresário bem sucedido e cheio de tesão, mas funciona quase como uma fábula. Ter um Christian Grey na vida real pode ser bem menos prazeroso que ler sobre ele, tal como seria um grande episódio de loucura presenciar um príncipe conversar com uma raposa. Tem coisas que só funcionam no mundo da fantasia, e esse romance entra no mesmo hall dos contos de fadas, dos filmes de vampiros e seriados de zumbi.
Ninguém quer no mundo real caçar vampiros, voar na vassoura do Harry Potter ou ver a abóbora virar carruagem. E isso nunca nos impediu de, ainda que não fizesse parte do nosso mundo, gostar e tirar lições dessas estórias.
Defendo aqui, o livre direito das pessoas terem gostado do livro mesmo sem querer entrar em um quarto vermelho da dor. O livro traz lições nas entrelinhas. Nos identificamos com a Anastasia Steele porque, tenho certeza, pelo menos uma vez na vida já vivemos o dilema do amor e da dor no mesmo homem. TODAS nós já levamos “palmadas” de companheiro e ainda assim continuávamos nos apaixonando. Basta ver o quanto nós gostamos de homens cafajestes. Talvez o sexo violento do livro tenha nos lembrado que nosso processo de se apaixonar funciona do mesmo jeito “entre tapas e beijos”.
Por fim, embora seja para mim o ponto mais importante do sucesso do livro, estamos vivenciando uma das maiores demonstrações de quebra de paradigmas sexuais femininos. A nossa sociedade, que até 40 anos atrás a mulher era desonrada se não casasse virgem, está vendo mães, avós e filhas lerem um pornô em praça pública, sem o mínimo pudor. Gerações femininas da família comentam sobre sexo na mesa do almoço de domingo, usando o livro como ruptura desse tabu.
Entre as conversas sobre a trilogia, as mulheres estão falando sem medo suas preferências. Estão se permitindo experimentar um sexo diferente do papai e mamãe santo que os tradicionais falam.
Cada leitora desse livro é, provavelmente, menos uma mulher no mundo que vai morrer sem conhecer o orgasmo. Não porque o livro é a bíblia do sexo, mas porque ele provoca, ele deixa com a pulga atrás da orelha, ele mexe com a nossa libido e nos mostra prazeres de diferentes formas. Teremos mulheres mais satisfeitas, homem saciados, menos medo de tocar no assunto sexo dentro de casa, mais liberdade da mãe conversar com filha.
Se esquecermos toda desconfiança sobre a qualidade do livro, nos deparamos com mais de 50 tons de liberdade,  e ganhamos uma sociedade de cabeça menos fechada. Afinal, foi isso que esse século sempre prometeu.


4 comentários:

Anônimo disse...

Tu não pode ta falando sério, "menos uma mulher no mundo que vai morrer sem conhecer o orgasmo"!
Se precisa de um livro pra isso, urgentemente os conceitos precisam ser revistos.

Carol Côrtes disse...

Talvez você não tenha lido o resto do texto que fala de toda repressão x liberdade.

Anônimo disse...

Posso dizer que encarei o sexo de um modo diferente depois que li livros eróticos de diversos escritores. (Adorei seu ponto de vista!)

Unknown disse...

Gostei Carol! Particularmente eu detesto o livro, porque acho que ele é tão machista quanto esse monte de pornôs que vemos por aí. Mas tenho que concordar com você que ele serve como uma luz na vida sexual de muitas mulheres, que vão querer tentar algo novo, buscar aprender mais sobre posições e formas de sentir prazer. E se isso servir pra trazer mais liberdade e curiosidade sexual pras mulheres, então é válido sim! Excelente ponto de vista!