Vou dormir a noite tendo a certeza de que hoje foi a última
vez que a vi. Não quero (mais). Mas como uma forma de conspiração, até os meus
sonhos já se acostumaram com a sua presença, e sua companhia me rodeia por toda
a madrugada. O galo canta, a noite vai embora e eu me encho de esperanças de
ser feliz só. Eu chego a acreditar que “dessa vez vai”. Mas dizem que o destino
quando não tem o que fazer, brinca com a gente. Ou seria essa sua única função?
Criar situações, encontrões de pessoas que se odeiam, ou se amam demais.
Sendo assim, por mais uma vez o imã dela atraiu meu olhar em
sua direção. É como se eu ouvisse, cada vez que ela me chama em silêncio. O som
do nosso amor é proporcional ao cabimento que ele tem. Nenhum. Nenhum murmúrio,
nenhum sentido, nenhuma palavra, nenhuma verbalização. São dois corpos movidos
pelo desejo insaciável do prazer, buscando no outro uma forma de ser feliz.
Somos felizes, com ou sem o outro, somos. Só não sabemos mais ser. Somos quietos,
cheios de não querer, de rótulos, e... tá, confesso, de medo. Muito medo. E por mais que eu tente esquecer o jeito doce
como ela me beija; o perfume cítrico; e o cabelo embaraçado no fim, sempre fica
um aperto, um nó atado e sem pontas para puxar.
Somos o que nunca houve, o que não começou. Mas chega a
madrugada, os sonhos, o dia, o medo... e nos transformamos, na verdade, no que
nunca acaba.
Um comentário:
Muito bom!!
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