Primeiro você me azucrina, me entorta
a cabeça...
Você sempre chega assim, fazendo cara de cachorro que caiu
da mudança, falando manso e pedindo carinho. Tem tanto tempo, mas eu ainda
acredito. Te coloco no colo, contorno seu rosto com a ponta dos dedos, fecho os
olhos e me imagino ali, todo dia. O arrependimento vem logo depois, sempre
junto com os primeiros raios de um novo dia em que ninguém sabe como agir.
Eu já devia ter me acostumado com esse vai e vem rotineiro,
essa fuga apressada que sempre termina em um contorno que nos leva de volta ao
início - Início? Talvez a inexistência do fim seja explicada pela falta do
começo.
Enquanto você vai eu dou com os ombros e espero. Vez ou
outra eu espio sem querer ser vista, certificando-me que você encontre a volta.
Não estou certa, mas creio que você já caminhe com a certeza do retorno, porque
toda vez é assim, você vai, mas sempre volta. Volta pro meio, da história, do
caos ou de nós, não sei exatamente. Sei que volta, mais ainda não sei se é o
certo.
No nosso meio a gente nem precisa de explicação, nossos
pensamentos caóticos se aceitam e nossas vozes exageram nos pedidos de
desculpas, mesmo que nenhum de nós consiga expressar pelo quê se arrepende, se
é por ter ido ou por ter voltado.
Nosso ciclo vicioso tá gasto, não demora e ele já vai falhar
e não vamos mais caber no meio de nós. Mas se ainda não for dessa vez, e você
voltar, não se esqueça de fazer aquele seu jeito de implorar cafuné, tá?
...Há um lado carente dizendo que sim
E essa vida da gente gritando que não
E essa vida da gente gritando que não