E em uma atitude
de desespero eu decidi que eu queria tentar te contar tudo que nunca dissera
antes. Contar sobre tudo aquilo que me fez chegar até aqui, e que talvez você
nunca tenha entendido. Eu queria era poder
te contar de tudo, desde a primeira vez que meus olhos encontraram os
seus, assim, tão clichê quanto cantou Tom Jobim. Te falar das explosões pouco
conhecidas que eclodiram em mim, do vício que nasceu, tão prematuro, de ser
vista por você. Dizer da certeza que eu tive, desde a primeira vez, que o nosso
encontro deveria acontecer naquela hora. Queria te pontuar que, apesar dos anos
ainda não terem me explicado o nosso achado, e por vezes eu até o mal dizer,
isso logo passa, sempre que me pego rindo do teu riso. O que eu nunca comentei
é do nosso habitual encontro noturno, cada vez que me deito tentando não sonhar
com você, das noites que você cuida para que minhas oito sagradas horas de sono
sejam felizes. Falaria do desejo que arde em mim, das
inúmeras coincidências que nos cercam e do quanto seu jeito me causa uma adorável
raiva. Diria que os céus conspiram ao nosso favor, mesmo que eu não tenha
certeza disso. Se eu pudesse, contaria muitos segredos do meu fantástico mundo
imaginário, sobre tantas coisas eu te falaria… Mas não posso.
Não quero ser... sem que me olhes. Abro mão da primavera para que continues me olhando. (Pablo Neruda)