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quinta-feira, abril 28, 2011

A-cor-dar

Acordar com os pés gelados e sozinha em uma grande cama já era de costume. Incrivelmente havia acostumado a rolar por sua king size sem ter quem a incomodasse, e seus travesseiros aprenderam a abraçá-la de uma forma envolvente.

A rotina de apertar o soneca do despertador, esfregar o rosto na cama e pensar que não quer levantar a acompanhava há algum tempo. Nesta manhã, porém, acordou atipicamente disposta. Decidiu usar o tempo do soneca para se maquiar um pouco, achava que precisava de um pouco mais de cor, em sua pálida pele. Resolveu colorir o dia e escolheu a roupa que melhor representava seu estado de espírito. Não entendia o motivo, mas era pulsante demais para ser ignorado.

Seguiu rigorosamente seu caminho, nenhum imprevisto até o trabalho. Um dia corrido, como sempre. Na saída resolveu que voltar para casa, depois de estar vestida tão cheia de vida, seria um desperdício. Parou no restaurante pelo caminho, pediu o vinho mais caro e parou para ouvir uma bossa que há tempos não cantarolava. Achou nos olhos do rapaz sentado a mesa ao lado um lugar pra pousar o olhar. Sustentaram as troca de olhares até o fim da noite. Ela pensou em tomar a iniciativa, deixar seu numero do celular, ou perguntar o nome dele. Por fim, pediu a conta e equilibrou se em seu scarpin de volta para casa.

Descobriu que aquele ímpeto de colorir o dia a fazia bem. Tomou um bom banho quente, ainda embriagada, deitou abraçada com seus tão queridos travesseiros e dormiu, lembrando dos mais ternos olhares dos últimos tempos.

No dia seguinte acordou com os pés gelados, rolou em sua cama, esfregou seu rosto, e apertou o botão de soneca. Não dava para viver dias coloridos seguidos.

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