Essa não é uma carta de amor, pra se declarar ou jurar um
relacionamento eterno. Essa é uma carta de quem nem sabe o que é amor ao certo
e de quem morre de medo dele. Essa é uma carta de quem só quer que isso dure
até amanhã, mas que se for bacana e se estender até depois de amanhã, tudo bem
também.
Eu sei que você mal chegou e já tá indo, mas eu e esse meu
jeito de não saber dosar as coisas - ou demonstro muito interesse ou nenhum –
queríamos que você ficasse mais um dia, só pra ver que as primeiras vezes são meras encenações de pares perfeitos.
Fica mais um dia pra ver que eu adoro futebol-e-cerveja,
sei a regra de impedimento e a escalação do meu time. Pra ver que eu canto mal pra
caramba e é exatamente por isso que eu adoro um karaokê. Pra ver que eu não
tenho muito traquejo social. Pra ver que sou brega e ouço Fagner fazendo
coreografia. Pra ver que quanto mais sem graça é a piada mais eu gargalho.
Fica pra amanhã a gente rir de hoje e mesmo sem intimidade
nenhuma travarmos uma briga sobre quem de nós dois é mais idiota. Vamos bradar
argumentos de defesa e acusação alternados com travesseiradas e risos
escandalosos. Depois vamos diminuir a euforia e pensar que tudo isso é muito
bom, mas nossa oposição de ideias políticas nos mantém certos de que isso não vai longe demais.
Fica pra deixar mais chances para a saudade aparecer e daqui
10 anos a gente se perguntar “era bom, porque aquilo não deu certo?”. Fica pra
deixar arestas para a gente aparar sem compromisso em alguns encontros no
futuro. Fica pra você ter mais argumentos para ir embora e pra dar tempo de
levar mais alguns sorrisos embrulhados pra viagem, pode ser que você precise
deles no caminho.